sábado, 13 de dezembro de 2008

HELA não tem decência nem nunca terá


"Tive sérios e prazerosos tremeliques."

Era pra ser o dia de mais ansiedade, hiper putice reprimida, total desespero, tristeza supostamente derradeira e tudo o mais que te coloca no poção sem fundo. Pra completar, ainda tava de TPM e sem minha fluoxetina. Tinha vontade de esmurrar as paredes, rasgar todos os meus cadernos e meu dinheiro, vomitar pela janela toda a barra de nougat edição limitada que eu tinha engolido. Mas não fiz nada disso. Fiquei só, implodindo a mim mesma. O sol urrava lá fora e eu suando em bicas numa tarde torrencial em que não conseguia ver o céu, não era capaz de levantar do sofá e ir até a janela que dava para o vão do prédio... ao menos lá eu podia ver alguma nuvem.... Foda-se. Continuava deitada, carimbando as almofadas, explodindo o estômago, sem sequer esticar o braço pra apagar o cigarro. Quantas guimbas havia no chão eu já não fazia idéia. Típico dia do marasmo suicida total.
Eis que, de repente, meu mergulho nada altruísta foi substituído por um inesperado momento de orgasmo espiritual: o fantástico mundo do surreal abriu as portas pra eu entrar.
ORGASMO ESPIRITUAL COM REFLEXOS CONCRETOS, MUITO CONCRETOS, NO CORPO FÍSICO. NO MEU CORPO.
TIVE SÉRIOS E PRAZEROSOS TREMELIQUES.
Tava feito lagartixa, dormindo e acordada ao mesmo tempo... Até que ouvi passos. Tentei abrir os olhos e não consegui. Alguém veio do meu lado e tirou um isqueiro da minha mão que eu não sabia se tava realmente ali. Era um sonho absolutamente real. Senti o tocar de uma mão na minha mão. E esse gesto do além me excitou profundamente. A partir daí, foi uma enxurrada de sensações que eu não sei como exprimir, não aprendi como nomear aquilo, talvez porque tenham sido imagens fora do corpo físico. Algo de um mundo misterioso. Era uma cegueira dos olhos, afinal eles estavam fechados, e uma abertura da mente e do corpo. Não era uma cegueira negra, a dos cegos ditos normais, nem alva, a dos cegos do Saramago. Era uma cegueira colorida. Colorida e viva até demais, um filme do Almodóvar.
Vi o grisalhão gostoso que entrega cigarros na calada da noite plantado no meio da sala, ofuscado pela luz estourada vinda do teto. Ele me agarrou e me deu um beijo. Tentei abrir os olhos e não consegui. Tinha total consciência que tava deitada no sofá, mas sentia e via o meu corpo aos agarros com ele no carpete. Meus lábios ardiam e comecei a soltar faísca. Minhas pernas tremiam e eu queria sexo mais do que nunca! De repente, um empurrão!
Tchuffff! Um furacão me carregou de volta pro meu corpo no sofá. Tentei abrir os olhos e não consegui. Só senti alguém tirando minha roupa e roçando em mim. Beijava minha nuca... beijava minha boca...roçava a barba nas minhas costas...algo entrou em mim! Ui! Comecei a sentir um prazer insuportável, o além tava fazendo sexo deliciosamente comigo! Uma onda de prazer me percorreu. Tentei abrir os olhos e não consegui! Mas eu vi! Eu vi de olhos fechados: era o grisalhão me fodendo, e ele me penetrava profundamente na posição que eu mais gosto, deitada de costas. Fazíamos movimentos circulares, de vai e vém, rebolávamos e mexíamos o corpo... Minha sensibilidade perdeu o rumo, minha excitação foi às alturas e quando não agüentava mais um tremor invadiu meu corpo,gemi alto e delirei!
Literalmente urrei de prazer.
Tentei abrir os olhos e consegui.
Ninguém em casa. Tava de roupa. Na minha calça, pentelhos grisalhos...
No som, antes desligado, cantava o Chico “o que não tem decência nem nunca terá, o que não faz sentido...”

4 comentários:

  1. Prá que decência, em certos momentos essa palavra soa mais como hipocrisia, não temos asas para voar, mas temos uma mente que nos pode levar ao infinito. Essa é sua estrada, a cor é sua, pinte-a como quiser.
    bjs

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  2. hmmm... acho conheço trechos deste texto...

    quantas peças há de haver espalhadas por aí
    Hela e seus pedaços - quase uma "Valsa nº6"

    me diverti ao ler fragmentos "novos"

    ô, liberdade gostosa a sua, de publicar delírios!

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