segunda-feira, 20 de junho de 2016

De
À parte do todo
Até
parte do todo.
Eis uma e s c a l a
O resto é puro aparte.

terça-feira, 7 de junho de 2016

COPACABANA


Esse jogo de damas enviesado serpenteia as rodas os aros as pisadas. Peito- meio- ponta- peito- meio- ponta- dor e do-in no pé. Ah, pé com pé, as melhores trepadas começam pelas solas... faz assim faz, encosta me sente me fode me adentra de cócegas gemendo em quem não quer par só de si próprio. Tato de se enfiar num outro espaço. Num tanto tão miúdo passaria toda a ampulheta. De grão em grão tece a esteira marrom. Nas vias não aéreas do concreto o Forte vira paisagem morta. Mole mole fazer arranhão nas expectativas do desejo. Músculo tem lama de castelo destronado nesse campo de burro quando foge brecado por panos de cores vibrantes que ventam as íris. Mais vale encarar o azul acima. Queria mesmo aqueles olhos verdes, aquela pressa certeira de quem precisa de água. Curvas ensimesmadas nesse alto baixo de espumas fazendo caldo uterino. Esquece o reto dessa prancha! Olha o mate! Mate leão! Chega de rugir! Escorpião quer água, não é siri que anda de lado, é rodamoinho que renasce em veneno do próprio rabo. Sede que nunca passa, calma que nunca chega. Biscoito Globo! Olha o Globo! Não, não me venha com farelos, o universo tá no umbigo. Quando o acolá vira aqui a gente inventa outro ali e cria picolés que entopem a boca de areia. Engasgou-se atrás das Pelancas do agora. Solavancos de sal. Pitadas de mamilo. Podem matar. Matar quem já morreu? Tá tudo duro na pélvis escondida nesse sobe e desce de líquido danado. Seria fácil nós rebolarmos juntos os círculos da cintura e da vida, tocando nas agruras do passado remexido no futuro que tá presente. A única certeza dessa maré é a Lua. IMERGE, MERGULHA, INUNDA nesse óleo sem filtro. Por que pode cabeça dentro do mar e o chuveiro não permite sal na cuca? Vira, vira, vira a rede. Pesca sem isca o afogado que não é peixe, mas morre pela boca. Foi salvo pelo monstro sem asas. Seria mais lindo ir embora do ar que se respira. Isso é pra quem gosta de guimba. E pra gente que trata fumante feio leproso, mas respira fundo e afunda no monóxido de carbono dessa calçada. Ar rarefeito de domingo desfeito. Delirium tremens na escuridão, desdenho as grandezas na avidez pelos significados. Mamão é ferida de pele, cenoura é câncer na alma. Copacabana tá sem cabana. Restam só as copas dum coração partido.

LARANJA


Laranja não tem cor laranja. O daltonismo se descobre no agora. Redondo que não é circular, o amarelo esquece o alaranjado e se toma de verde claro e musgo e limão e bandeira como as matas numa montanha distante dissolvendo em gradações que não se querem únicas de tom;  só de cor. As queimadas não ficam de fora.  No fundo e a fundo, são todos furinhos de poros sem pelos. Riscado na vastidão amarela num preto quase nanquim, um cavalo sobressalta aos olhos e abocanha a floresta. Já a Avestruz sem cabeça não tem como se enfiar na terra e se mete no buraco verde. Encara o hematoma de verruguinhas amontoadas e salientes que roçam os dedos e se dissolvem em campo de girassóis. Neste rabo que assenta a fruta desmascarada, pinga o ponto preto de grafite entortado. Em cima, brota a reta que escapa à circunferência e agora dá no nada: é galho. De supetão, lembra a flor de um pequeno príncipe cativada e cultivada neste planeta amarelo que de terra não tem nada. Haste que se pega e quebra e faz a esfera rolar rolar rolar no chão tipo bola de fogo. Caiu girando a danada. Tá tonta. Fechada assim é tão tímida que parece inodora. Inspira, inspira fundo e não sente bulhufas. Será o olfato perdido pelo desvio de septo? Em certas faces as reentrâncias tilintam em pingos feito formigas perdendo seus caminhos de ferormônios mortos. Percursos s o l t o s. E finalmente, de unha em unha afiada e enfiada na casca, tal qual britadeira perrrfuraannndo o solo, o odor cítrico invade as narinas, a pele, a mão, as mãos, a unha, as unhas, as teclas e a alma. Agora!  Facada na horizontal do que seria um meio! Mas há centro? Vontade líquida de infância perdida e repartida num eneágono de gomos escolhidos por cinco caroços que se abrem como pétalas adornando um miolo de flor: lírio branco capenga que se perdeu no bem me quer mal me quer. Não, não é laranja. É amarela. Se achava pera cítrica. É lima doce essa estilhaçada. Se contorce e solta água tal qual vagina ovulando em bolhas miúdas. O suco é o corrimento esperando a concepção. Daria uma mamadeirinha pra beber o bebê. Chupa tanto que o ranço da casca não desdenhada invade os lábios e amarga a carne. Desgomada, revirada e cessada vira solo branco de gesso que não tem mais nada.  De laranja mesmo, assim laranja, não sobra um pingo na coitada.  

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

BURACO ENTRE AS PERNAS


...até Jung se assustaria com tanta sincronicidade...

HELA passou a tarde fazendo um gato de papel marché. O gato nasceu com corpanzil de tigre e cílios de leoa. Foi só o bichano ficar de pé que o interfone tocou: era Josi, o porteiro que mamulengava , avisando que deixaram uma VHS lá embaixo. Nenhuma informação a mais; nem do Josi nem na fita. Play no vídeo cabeçote sujo imediatamente:
ALFREDO (!!!!???)
Não era possível!
Meu falecido e desconhecido avô. Cuspindo um baita não-dito. QUE DEU UM SUSTO. Que não vai passar.
UM BURACO ENTRE AS PERNAS.


Chuviscos de super 8 na tela: senhor Alfredo pra frente e pra trás na cadeira de balanço enquanto fuma o seu cigarrinho de palha ao som de grilos e corujas e zumbidos sob uma noite estrelada.
Com todos os suspiros e inflexões devidas, vovô expurgou sua existência tal qual um Marlon Brando da vida.
- Faz muito tempo que vivo sozinho. Tenho tara por espaços vazios. Chega uma hora que você aprende a freqüentar você mesmo, sabe?
Baforada de fumaça.
Essa história de mudar é balela... Desde o berçário Alfredo (eu) é igual a Alfredo (Eu). Só que hoje esse Alfredo sabe como é ser Alfredo. (tosse seca) Ora, tem 76 anos que piso na Terra e percebo um sobe e desce danado da mesma carapuça. E essa carapuça que aqui fala (com ímpeto)se resume a busca incessante por uma descendente fêmea;(resignado) tudo o que eu não pude ser por mera desvontade da natureza.
Apaga o cigarro com o pé, a meia branca do chinelo de dedo cada vez mais pra cinza. Vovô encara forte a lente.
Nasci mulher num corpo de homem. Por mais amor que eu faça de costas, jamais vou poder olhar fundo e de frente nos olhos dos meus amantes... (indignando-se) Como eu enlouqueceria os homens pelo simples fato de ter um buraco no meio das pernas! Uma rachadura que seria aprimorada por aulas diárias de pompoarismo,,, ah, eu dominaria como ninguém a arte de sugar, expelir, chupitar e estrangular. (é quando ele trinca com desejo a dentadura).
Sempre pensei que parte da minha biografia - escrita errada e por linhas tortas - seria esfumaçada se eu originasse algo feminino. Decerto uma filha minha criaria algum acaso mais forte no meio de tanta falta de sentido.
Olha as estrelas e solta um sorriso de ternura sacana.A primeira mulher que se dispôs a trepar comigo, mesmo sabendo da minha ojeriza , foi Bete. Bete era meu amor de infância. Eu tinha 24 anos e conhecia Bete desde os sete. Ela era boa demais, só vinha na hora que eu queria. Sempre.
Nunca foi inconveniente, nunca. Um ser humano hors concours em senso do ridículo. Lembro que a gente escutava Pink Floyd e brincava com as Barbies ou os pôneis, nunca os dois juntos, engraçado... Ela era uma devassa. No fundo eu tinha desejo de ser ela - coisa ainda não amadurecida na cabeça de um moleque que, faltava pouco, iria descobrir sua homossexualidade.
No dia marcado pro ato, escolhido a dedo no período fértil, me esperou com a boca semi- aberta e os olhos de gavião. Suas axilas tinham odor de capim cidreira. Fiquei tempos só olhando e não vendo... Tava embalado pelas lembranças de infância, quando eu ainda acertava a gude no buraco. Se macho fosse, seria mole nós rebolarmos juntos os círculos da cintura e da vida, tocando nas agruras do passado remexido no futuro que tá presente...
Foi PÁ-PUM. Tanto a rapidez do ato quanto a velocidade da má notícia:
Sim, ela engravidara.
Mas de um macho.
Ao todo vieram mais três. Apesar de homens, nasceram fêmeas feito eu.
Foi tanto desgosto junto que, certa vez, tentei me matar. Mas o não pagamento da conta de gás brecou meus planos... Acordei no mesmo chão de cozinha velha e encardida.
Nenhum dos meus filhos esconde a afeminação; são coisas que vão desde a disposição linear das garrafas de Perrier na geladeira até a coleção de DVDs da Whitney Houston. Agora vejo que a teoria da evolução é minha Bíblia e Darwin é Deus.
E dizer que estraguei anos de minha vida, que eu quis morrer, que tive meu maior amor, por uma mulher que não me agradava, que não fazia o meu gênero! Uma mulher que nunca nasceu...
É da minha natureza gerar bichos amorfos.
FADE OUT

Hela chorou e soluçou ao ponto de se engasgar. Olhou o bichano de papel marché e desmilinguiu de vez. Era uma sina dessa gente produzir seres desencaixados.
De supetão dormiu.
E, sem perceber, sua água derreteu o estranho gato recém-nascido.

domingo, 26 de abril de 2009

Joe


Hela andou divagando pelo bairro tão diferente às escuras, parecia outro lugar daquela metrópole encharcada de táxis. E, como alguém disse ainda há pouco, táxis não são carros.
- Por que não?
- Táxis são Garibaldos; pássaros amarelos com asas.
Foi a resposta do Joe, o bom mendigo que anda com o pau de fora desde sempre pelas ruas humaitanianas, fissurado na nostalgia didática do Vila Sésamo.
Mesmo com todo o fedor do Joe, viver na Sesame Street era um barato.
E foi assim que dormiram juntos, os pés cruzados.
Lembrou do Rony Maltz, defensor ferrenho da teoria de que todas as trepadas gostosas começam pelos pés.
Pés grudados sempre bastavam, mesmo que fossem de uma só pessoa.

sábado, 7 de março de 2009

quando quer ser é


A CAVALGADA plotkowskiana-
com outras pitadas

tombão no precipício das sensações
nós,de corações explosivos, atitudes enérgicas, focos desfocados
Plot, com suas malucas madeixas
Hela, com seus sapatinhos invisíveis
E os olhos da tábua corrida deram piscadelas de aprovação:
- Voem no perseguir do agora! ; mexiam as bocas desvairadas das sombras de Platão.
De cabeça pra baixo; sempre.
E as mãos dadas eram só e apenas e tudo.
Então, fomos.
E vamos novamente.
Mais uma piscada.
Agora, de terra vermelha. Que dá e não passa.
Tal qual uma trepada tântrica.

sábado, 28 de fevereiro de 2009

Equilátero da biodiversidade


Uivos- doidos e doídos -de lobas em meio a nuvens salvadoras e dalinianamente moldadas.
"As águas burburinhavam seus doces segredos em estrondosos chacoalhares cristalinos. Dentre eles, correu a notícia que engravidei(amos)do vento e pari(imos)puro sentimento."
(Janis Plot à beira do Canion Capivara).
E na noite escura, sob a enxurrada de uma nunca antes vista Nebulosa, os coelhos trepavam no sem tempo, berrando o preenchimento dos mundos do mundo.
So, Hela se deu conta que o Pau do Cerrado é o mais gostoso e perfeito do universo fora de Nibiron.
Só gozadas intensas.
E nada mais.