terça-feira, 7 de junho de 2016

LARANJA


Laranja não tem cor laranja. O daltonismo se descobre no agora. Redondo que não é circular, o amarelo esquece o alaranjado e se toma de verde claro e musgo e limão e bandeira como as matas numa montanha distante dissolvendo em gradações que não se querem únicas de tom;  só de cor. As queimadas não ficam de fora.  No fundo e a fundo, são todos furinhos de poros sem pelos. Riscado na vastidão amarela num preto quase nanquim, um cavalo sobressalta aos olhos e abocanha a floresta. Já a Avestruz sem cabeça não tem como se enfiar na terra e se mete no buraco verde. Encara o hematoma de verruguinhas amontoadas e salientes que roçam os dedos e se dissolvem em campo de girassóis. Neste rabo que assenta a fruta desmascarada, pinga o ponto preto de grafite entortado. Em cima, brota a reta que escapa à circunferência e agora dá no nada: é galho. De supetão, lembra a flor de um pequeno príncipe cativada e cultivada neste planeta amarelo que de terra não tem nada. Haste que se pega e quebra e faz a esfera rolar rolar rolar no chão tipo bola de fogo. Caiu girando a danada. Tá tonta. Fechada assim é tão tímida que parece inodora. Inspira, inspira fundo e não sente bulhufas. Será o olfato perdido pelo desvio de septo? Em certas faces as reentrâncias tilintam em pingos feito formigas perdendo seus caminhos de ferormônios mortos. Percursos s o l t o s. E finalmente, de unha em unha afiada e enfiada na casca, tal qual britadeira perrrfuraannndo o solo, o odor cítrico invade as narinas, a pele, a mão, as mãos, a unha, as unhas, as teclas e a alma. Agora!  Facada na horizontal do que seria um meio! Mas há centro? Vontade líquida de infância perdida e repartida num eneágono de gomos escolhidos por cinco caroços que se abrem como pétalas adornando um miolo de flor: lírio branco capenga que se perdeu no bem me quer mal me quer. Não, não é laranja. É amarela. Se achava pera cítrica. É lima doce essa estilhaçada. Se contorce e solta água tal qual vagina ovulando em bolhas miúdas. O suco é o corrimento esperando a concepção. Daria uma mamadeirinha pra beber o bebê. Chupa tanto que o ranço da casca não desdenhada invade os lábios e amarga a carne. Desgomada, revirada e cessada vira solo branco de gesso que não tem mais nada.  De laranja mesmo, assim laranja, não sobra um pingo na coitada.  

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